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pela palavra a sala encheu

A Estreia do Filme Pela Palavra, em Struga, na Macedónia

A sala estava cheia. Eram nove e meia da noite e o filme começou a ser projectado. Foi um momento de grande alegria e o culminar de um ano de trabalho. A ideia tinha mais de seis anos, mas só agora consegui devolver a Struga, a poesia que tive nos dias que passei em frente ao lago. Agradecer a toda a gente que contribuiu para que este projecto se concretizasse. Gostamos muito de ver na sala os poetas e as pessoas que participaram no filme. No final os agradecimentos dos amigos e das pessoas de Struga que muito nos honram. Muito obrigado!


 Lubjomir Levcev, Laureado em 2010 e que esteve na estreia.
Vladimir Martinovski, poeta Macedónio que entra no filme e esteve na estreia


Aqui, Ancevski, saudoso director do festival, Vasco Graça Moura, e a grande poetisa cubana Nancy Morejón




estreia

Pela palavra vai estrear daqui a nada. O nervosismo é algum, mas os protagonistas estão a preceito.

notícia

Faltam duas horas para a estreia do filme pela palavra. De manhã a notícia andava nos jornais e  mais logo, esperamos juntar aqueles, que com amor, contribuíram para o filme. O nosso muito obrigado a todos.

a árvore

Vasco Graça Moura não sabia onde se tinha plantado a árvore dele. No ano em que foi laureado, um conflito eclodiu nas ruas da cidade entre a maioria macedónia ortodoxa e a minoria albanesa islâmica. Carros queimados, alguns tiros afastaram a cerimónia de plantação da árvore do poeta português para Skpje, capital do país. Conheceu a sua árvore hoje. Está grande e de boa saúde e traz consigo a marca da palavra poética, em português. Foi bom ver o ar de satisfeito de Graça Moura. Ali fez uma foto.
Hoje, poetas de todo o mundo leram poesias no parque dos poetas, leram e fabricaram emoções que não se explicam. É esta a grande chave deste festival, que este ano, conta com mais de duzentos poetas. A cidade não tem sequer hóteis para tanta gente. Poemas serão ditos e toda a gente poderá conhecer outras linguagens e outras fronteiras debaixo do céu de estrelas de Struga, aqui junto ao lago.



performance poética de Sally's Crabtree's
Vasco Graça Moura com os outros poetas

uma luz

Pela palavra chegamos, em mais um dia, perto, as estrelas. No filme, Struga e o seu festival surgem como uma luz, que ilumina os poetas. Vasco Graça Moura chegou e regressa à cidade que o prestigiou, sete anos depois. A árvore que plantou, no parque dos poetas junto ao rio Drim está de viva saúde como o plantador. Trouxe na bagagem a poesia portuguesa. Nos cumprimentos da praxe, as palavras de circunstância. Também o convite para a estreia. Amanhã o festival começa na ponte que liga margens, intenções, tensões. A ponte que liga as pessoas, que também as desliga, às vezes... 
A luz de Struga continua a fazer da poesia mais bela e mais do que nunca necessária. É a luz de um festival único. Basta para isso, que pela noite se olhe o céu e se sinta, a brisa do lago.

o busto de Gane Todorovski

O tempo é para homenagens.  O Festival de Poesia de Struga começou oficialmente. Com atraso típico e com os últimos acabamentos a serem feitos na casa dos Irmãos Miladinov (poetas fundadores da poesia macedónia contemporânea), lá se deu a cerimónia. Celebrar Gane Todorovski um dos fundadores do festival. Era professor de filologia na Universidade de Skopje e morreu em 2010. Agora, aparece por detrás de um pano em forma de busto. Para ficar ali, junto dos irmãos, que com o poema Tag za Yug (Saudades do Sul) reclamam os astros para cinco dias na cidade da poesia. 
Na cerimónia, estava também Mateja Matevski, o laureado deste ano, com a coroa de ouro do festival. Foi um dos colegas de Gane e são responsáveis pelo sucesso e encanto deste festival. Deram-lhe nome, reputação e muito amor. São uma geração virada para o mundo, que entendeu que a palavra poética é actual, fala das coisas que nos rodeiam. Criaram fórmulas novas e abriram a Macedónia ao mundo, através da poesia, sem excluir ninguém. São estes autores que fizeram de Struga uma potência mundial da poesia, como refere no nosso filme Jordan Plevnes, director da cinemateca de Skopje. 
Ás vezes os poetas podem mudar o mundo. 







 

a banhos com a poesia

O filme pela palavra aproxima-se da estreia. Entretanto, chegamos a Struga. São três horas de caminho por uma paisagem avassaladora, cheia de árvores e montanhas. Parece que Struga vai surgir por detrás das próximas, que estão ali, no horizonte. Mas não. Vem mais curva e contra-curva por um vale sinuoso. Chegamos à cidade da Poesia.  Aqui está tudo ao sol e as coisas acontecem com a languidez do lago aqui em frente. Os poetas já estão a chegar e na bagagem trazem livros, cheios de palavras, de sons. Nestes quatro dias vão ser partilhados com os habitantes e os visitantes da cidade. Na minha mala trouxe um filme que fala de tudo isto. Desta magia, que acontece aqui nestes dias últimos de Agosto. Virão poetas de todo o mundo. São cinquenta anos  e este aniversário. Antes de apagar as velas, um mergulho no lago a 900 metros de altitude. À poesia!


debaixo da terra

Em Skopje o calor é muito. É tanto que nem dormir se consegue. Passados muitos anos fui passear ao grande Cannyon de Matka e desta vez como turista. Cinco euros e a vontade de atravessar a vegetação, num cenário do Senhor do Aneis. O silêncio, as borboletas e uma água verde, que um bote percorre com muita lentidão. O nosso guia era além disso acrobata, de palavras, gestos e simpatia. A curiosidade de saber de onde vínhamos, quem éramos. A vontade de nos fazer ouvir cada uma das explicações. Depois de percorridos uns bons metros a surpresa. Descemos a uma caverna e ele mostrou-nos a formação de estalactites. Contou-nos que os morcegos que ali vivem são pequenos, mas que comem milhares de mosquitos à noite. E revelou-nos que a montanha esconde lagos subterrâneos de centenas de metros dos quais ainda não se sabe a profundidade.

poesia e luz

Em Agosto, Struga está especialmente bonita. Esta cidade, no sul da Macedónia, triplica a sua população neste mês. Os emigrantes macedónios vêem da Austrália, Estados-Unidos, Suiça e Alemanha. Nesse aspecto, muito idêntica às cidades transmontanas, que se enchem de pessoas no Verão. O festival de poesia ganha assim novos olhares e rostos. Como diz, no filme, o professor Nikola, Struga não é conhecida como cidade de passagem para as trocas comerciais, mas sim para trocas culturais entre as pessoas. E acontecem.

Mais de uma centena de poetas, milhares de línguas e poemas. Viagens e imaginações que se criam à volta da palavra. Ali, a setecentos mestros de altitude, bem perto das estrelas, os viajantes e os que lá ficam conhecem outros lugares e outras culturas. O filme pela palavra leva-nos nessa viagem.

16 de Agosto de 2010


Após uma longa viagem desde Lisboa, passando por Budapeste, finalmente chegamos. Skopje… Eram sensivelmente 2:00h, quando dois miúdos nos abordam à saída do aeroporto e perguntam: - Portugalia? E no meio de risos que foram constantes durante o percurso de 13 horas de viagem, respondemos que sim. E de facto eram os nossos motoristas, tradutores, anfitriões durante os 10 dias que estivemos na Macedónia.

À saída do aeroporto entrámos numa carrinha Wolkswagen Passat, o nosso carro de luxo (muito embora esperássemos um prometido Audi A6), porque a maioria ainda são os tão famosos “Yugos” e seguimos numa viagem alucinante à procura do Hotel que se situava na zona antiga da cidade. Durante o percurso um dos nossos anfitriões ou talvez os dois não percebi, decidiu cortar caminho, para uma zona estranha, escura, que parecia que ia a lugar nenhum. Aí o André diz-nos com muita calma: - Atenção! É agora que vão parar o carro, encostar-nos a uma parede e fuzilarem-nos um a um... Dá-me um ataque de riso gigantesco, eu não estava a acreditar no que estava a acontecer, era simplesmente surreal, e ouço o primeiro palavrão em Macedónio (ficou gravado na memória e foi a primeira coisa que ensinei ao meu sobrinho quando cheguei a Portugal), os miúdos enganaram-se no percurso.

Finalmente chegámos ao tão desejado Hotel Super 8, mais 30 minutos no check in, o inglês do recepcionista era quase inexistente e o Macedónio do André estava algo enferrujado, talvez tenha sido muito mais tempo,mas já tinha perdido a sua noção. Fomos então para os nossos quartos e fizemos uma pequena reunião no grande terraço do meu. Aí começamos a observar os contrastes que aquela cidade tem com as nossas e os encontros que vamos tendo com a nossa memória. Fumámos cigarros e ansiámos por abrir a garrafa de vinho que estava na minha “suite”, decidimos que não, era muito tarde e às 8:00h já teríamos de estar a tomar o pequeno almoço para filmar às 8:30h.

De tão ansiosa que estava, e do entusiasmo que não me deixava dormir eram 4:30h e começo a ouvir qualquer coisa estranha na rua, mas como estava meia dormente devido ao cansaço ao início ignorei, mas continuava e tive de sair para o terraço para ver o que se passava. Senti um misto confuso  de sensações. Estavam a chamar para a oração, era a Azan muçulmana que do alto dos minaretes chamam todos para rezar a Alá. Foi dos momentos mais bonitos que presenciei, que não consigo descrever, mas que me fizeram chorar copiosamente e penso: assim inicia o primeiro dia num país que sentes também teu.

 Sónia Santos

pela palavra em frança

Até ao final do mês de Agosto, o filme Pela Palavra estará disponível para visionamento na videoteca do Festival do Documentário de Lussas, em França. 

http://www.lussasdoc.org/index.php
e
em
http://www.lussasdoc.org/edition_2011,335.html

Lubjomir Levcev, poeta laureado em 2010, no festival de Poesia de Struga, Macedónia

um desejo

O filme "Pela Palavra" demorou cerca de meio ano a preparar e durante dez dias de filmagens, tentou captar-se a essência da palavra poética, que o festival de poesia de Struga tenta passar. Um lago e um conjunto de montanhas, que encerram uma paisagem única. O filme tem a duração de 35 minutos e estamos muito curiosos em ver a reacção das pessoas de Struga em relação ao filme. Como reagem ao olhar, que alguém distanciado, tem deles. Dia 26 de Agosto, na sala piano do Hotel Drin, pelas 21 horas, veremos o filme com um outro olhar. 


"Pela Palavra", estreia em Struga

Este ano o Festival de Poesia de Struga faz cinquenta anos. O filme "Pela Palavra" faz agora um ano.
Fomos convidados a mostrar este documentário nas celebrações dos cinquenta anos do festival. Uma boa notícia, que muito nos alegra. É também a estreia mundial do filme, no local, onde ele foi rodado. Há algo de muito saboroso nisto tudo. A poesia e a palavra nas suas formas mais ancestrais. O lago, o rio e uma paisagem que nos transporta ao melhor de nós, a simplicidade de um gesto.
Dia 20 de Agosto, partimos e prometemos revelar este reencontro com Struga e a palavra poética.


 

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